quinta-feira, 20 de dezembro de 2018

Precisamos incentivar a Agricultura Orgânica






Fonte: Youtube


Vídeos veiculados pela televisão brasileira com o tema “Agro é Pop. Agro é Tech. Agro é Tudo”. Será que é isso mesmo?


O processo de globalização vem possibilitando novos horizontes, entre eles a comercialização dos produtos advindos da agricultura brasileira, que nos últimos anos vem aumentando e com isso também o desmatamento vem crescendo. Isso está impactando, diretamente a agricultura, pois ela utiliza os agrotóxicos, os quais prejudicam o meio ambiente e a saúde humana.


Precisamos ser mais críticos! Hoje, no Brasil, a principal causa do desmatamento de largas extensões de terras, que provoca grande perda florestal, com consequente impacto sobre o solo e ambiente geral, é a crescente necessidade de uso de insumos e agrotóxicos. E, embora se produza muito alimento, uma grande parcela da população brasileira não tem acesso e passa fome, enquanto que aqueles que têm esse acesso muitas vezes não se atentam ao risco aos quais estão expostos, pois os agrotóxicos estão cada vez mais presentes na mesa dos brasileiros.

E você sabia que o governo brasileiro incentiva o uso de agrotóxico nas plantações por meio de medidas fiscais, como a isenção do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) e do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços), em alguns estados?  Apenas em 2017, o governo brasileiro abriu mão de R$ 1,3 bilhões com essas medidas, valor que poderia ser utilizado para incentivar a produção e consumo de alimentos orgânicos e agroecológicos (9). E por que o Brasil não incentiva?


Uma forma de barrar o uso de agrotóxicos é o incentivo à produção orgânica no Brasil, como se observa em países europeus, tendo, atualmente, a Dinamarca como grande consumidora de produtos orgânicos.




    Será que é possível produzir alimentos orgânicos?  
O veneno está na mesa (2011) (Fonte: Youtube)

O veneno está na mesa 2 (2014) (Fonte: Youtube)


O cenário da agricultura brasileira
Com uma das maiores áreas agrícolas do planeta, o Brasil se destaca por ser um dos grandes consumidores de agrotóxicos (1), movimentando em torno de US$ 10 bilhões (20% do mercado global, estimado em US$ 50 bilhões). Os monocultivos de exportação, como a soja, explicam a dependência química, inevitável em sistemas ecológicos homogêneos que concentram a produção de poucas espécies vegetais e animais. A agricultura industrial trava uma guerra contra a natureza e a biodiversidade vira uma praga a ser destruída. Não é casual que os primeiros agrotóxicos tenham origem na Guerra Mundial e, posteriormente, tais inovações transformaram-se num dos pilares da Revolução Verde que prometia acabar com a fome do mundo (2).
Todavia, apesar da atual capacidade produtiva do setor agrícola brasileiro, importantes segmentos da população apresentam dificuldades de acesso seguro e regular aos alimentos básicos dos quais necessita, denotando uma contradição. Isso mostra que, no caso, brasileiro, a questão do acesso aos alimentos não é mais uma questão de oferta e sim da desigualdade na distribuição de renda, de forma a impedir o acesso de todos ao consumo dos alimentos essenciais, uma vez que cerca de 1/4 da população brasileira vive abaixo da linha da pobreza, traduzido por US$1,90/dia, ou seja, traduzidos em valores mensais, o poder aquisitivo dessa parte da população se equivale a 1/3 da cesta básica ao mês.
Além disso, a desestruturação da policultura tradicional, que propiciava uma ocupação estável da terra, abriu margem para redução de oportunidades de emprego por causa da mecanização, resultando na formação de um excedente de mão-de-obra sem destinação conhecida (3).
No entanto, existe a resistência dos coletivos e movimentos sociais como camponeses, agricultores familiares, indígenas, quilombolas, extrativistas, movimentos de consumo consciente, alimentação saudável, agricultura urbana e feiras agroecológicas(4).
Segundo a Secretaria Especial de Agricultura Familiar e do Desenvolvimento Agrário, Ministério do Desenvolvimento Agrário, a agricultura familiar ainda produz 70% do feijão nacional, 34% do arroz, 87% da mandioca, 46% do milho, 38% do café e 21% do trigo. O setor também é responsável por 60% da produção de leite e por 59% do rebanho suíno, 50% das aves e 30% dos bovinos (5).


Agrotóxicos, insumos e uso de sementes transgênicas
Por ser um país tropical, a agricultura brasileira não conta com o período de inverno para interromper o ciclo das pragas como ocorre em países de clima temperado, logo o aumento desses produtos está relacionado à eficiência do campo, conferindo ao Brasil a liderança na produção de culturas agrícolas. Por outro lado, gera a preocupação por poder causar prejuízo ao ambiente, em função dos riscos de contaminação do solo e de mananciais e à saúde da população, assim como dos trabalhadores que lidam com as substâncias e de comunidades rurais próximas às plantações (1). E, nesse cenário, é crescente o consumo de agrotóxicos no país e utilização de ingredientes ativos tais como acetato e atrazina, proibidas na União Européia, além do risco de ser utilizado como arma química, pois em abril de 2018 foi feita uma denúncia pela organização não-governamental Operação Amazônia Ativa (Opan) de divulgação de imagens de um avião agrícola pulverizando veneno na Terra Indígena Marãiwatsédé, na região noroeste de Mato Grosso, onde vivem povos da etnia Xavante (6).  
Além disso, as sementes passaram de recurso regenerativo, integrante de ecossistemas sustentáveis, a mercadoria central do agrobusiness, ocorrendo a quebra da simbologia da semente como geradora de colheita e reprodutora de si mesma, devido a homogeneidade, estabilidade e dependência de insumos externos, ferindo a biodiversidade, já que destroem os conhecimentos tradicionalmente armazenados ao longo dos séculos de seleção de variedades. Logo, torna o pequeno agricultor refém dos pacotes tecnológicos introduzidos pelas multinacionais e cria uma massa de agricultores sub equipados e pouco produtivos não tendo saída diversa do êxodo para as favelas, caso nenhum acidente econômico, biológico, climático ou político venha brutalmente agravar a situação e condená-los à fome (7).




Fonte: Google images
A Agroecologia e os Alimentos Orgânicos


    O discurso de que não é possível ter grandes plantações sem o uso de agrotóxicos é MITO, porque o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) do Rio Grande do Sul é responsável pela maior produção de arroz orgânico da América Latina, tendo colhido 27 mil toneladas na safra 2016-17. Além de ofertar alimentos de base agroecológica no Brasil, o movimento também exporta para os Estados Unidos da América, Alemanha, Espanha, Nova Zelândia, Noruega, Chile e México (8).
   
DINAMARCA – A NAÇÃO MUNDIAL LÍDER EM ORGÂNICOS


Parece que sempre estamos atrás de outros países em termos de sustentabilidade e independência econômica. Não é mesmo?
A Dinamarca foi o primeiro país do mundo que implementou um controle estatal de orgânicos em 1987. Hoje, os produtos orgânicos que levam o rótulo vermelho Ø são altamente respeitados (10).


Fonte: Organic Denmark (10)


Antes que um agricultor possa nomear e vender seus produtos como orgânicos, ele precisa procurar uma permissão na autoridade competente. Isso inclui que o agricultor tenha que gerenciar seus campos organicamente por dois anos. Desta forma, as fazendas orgânicas devem garantir que os produtos orgânicos não entrem em contato com produtos não orgânicos. Se um fazendeiro desconsidera este regulamento, ele pode ser multado ou até perder seu direito à distribuição de produtos orgânicos.
As vendas orgânicas na Dinamarca continuam estabelecendo um recorde. Por exemplo, de 2016 a 2017, a venda de alimentos orgânicos aumentou em 31%. Além disso, mais da metade dos dinamarqueses - mais especificamente 51,4% - compram alimentos orgânicos a cada semana.


Quero apoiar a agricultura orgânica ou como agricultor quero fazer parte de algum grupo. O que posso fazer? Acesse os links abaixo:

Onde achar produtos orgânicos no Brasil? Dê uma conferida no Mapa de feiras orgânicas do IDEC






Campanha OPAS/OMS Brasil.


Ajude o post a crescer! Se você tiver algum comentário construtivo ou informativo, por favor, comente! =)


REFERÊNCIAS   
  1. VASCONCELOS, Yuri. Agrotóxicos na Berlinda. Revista Fapesp, São Paulo, v. 1, n. 271, p. 18-27, set. 2018. Disponível em: <http://revistapesquisa.fapesp.br/ 2018/09/18/folheie-a-edicao-271/>. Acesso em: 10 out. 2018.
  2. DE SOUZA PORTO, Marcelo Firpo. O trágico Pacote do Veneno: lições para a sociedade e a Saúde Coletiva. Cadernos de Saúde Pública, Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, Fundação Oswaldo Cruz., Rio de Janeiro, v. 34, n. 11, out. 2018. Disponível em: <https://scielosp.org/pdf/csp/2018.v34n7/e00110118>. Acesso em: 07 out. 2018.
  3. MIRANDA, Ary Carvalho de et al . Neoliberalismo, uso de agrotóxicos e a crise da soberania alimentar no Brasil. Ciênc. saúde coletiva,  Rio de Janeiro ,  v. 12, n. 1, p. 7-14,  Mar. 2007 . Available from <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-81232007000 100002&lng=en&nrm=iso>. access on  20 Out. 2018. http://dx.doi.org/10.1590/S1413-81 232007000100002.
  4. AQUINO, Joacir Rufino de; GAZOLLA, Marcio; SCHNEIDER, Sergio. Dualismo no Campo e Desigualdades Internas na Agricultura Familiar Brasileira. Rev. Econ. Sociol. Rural,  Brasília ,  v. 56, n. 1, p. 123-142,  Mar. 2018 . Available from <http://www.scielo.br/scielo.php ?script=sci_arttext&pid=S0103-20032018000100123&lng=en&nrm=iso>. access on  20 Out. 2018. http://dx.doi.org/10.1590/1234-56781806-94790560108.
  5. GOVERNO DO BRASIL, COM INFORMAÇÕES DO MDA, DO BANCO MUNDIAL E DO IBGE. Secretaria Especial de Agricultura Familiar e do Desenvolvimento Agrário. Agricultura familiar do Brasil é 8ª maior produtora de alimentos do mundo. 2018. Disponível em: <http://www.mda.gov.br/sitemda/noticias/agricultura-familiar-do-brasil-é-8ª-maior-produtora-de-alimentos-do-mundo>. Acesso em: 26 nov. 2018.
  6. DE LAVOR, Adriano. O estigma do inimigo público: Disputa por territórios acentua perdas de direitos e exclusão de grupos sociais. RADIS - Comunicação e Saúde, Rio de Janeiro, v. 34, n. 192, p. 31-33, set. 2018. Disponível em: <http://www6.ensp.fiocruz.br/radis/revista-radis/192>. Acesso em: 07 out. 2018.
  7. BIANCHI, Giovanna Silva; TÁRREGA, Maria Cristina Vidotte Blanco. PROCESSO DE MERCANTILIZAÇÃO DA SEMENTE: ORIGEM, CONSEQUÊNCIAS AO AGRICULTOR FAMILIAR E ALTERNATIVAS. REVISTA DE DIREITO AMBIENTAL E SOCIOAMBIENTALISMO, [S.l.], v. 3, n. 1, p. 31-33, jan-jun. 2017. Disponível em: <http://www.indexlaw.org/index.php/Socioambientalismo/article/view/2133/0>. Acesso em: 10 out. 2018.
  8. SPERB, Paula. Como o MST se tornou o maior produtor de arroz orgânico da América Latina. BBC News Brasil, [S.l.], maio. 2017. Disponível em: <https://www.bbc.com/ portuguese/brasil-39775504>. Acesso em: 13 out. 2018.
  9. IDEC - INSTITUTO BRASILEIRO DE DEFESA DO CONSUMIDOR. 10 Mitos e Verdades sobre Agrotóxicos. Publicação do IDEC, [S.l.], out. 2018. Disponível em: <https://idec.org.br/ ferramenta/10-mitos-e-verdades-sobre-agrotoxicos>. Acesso em: 21 out. 2018.
  10. KAAD-HANSEN, Louise. Organics in Denmark: World leading organic nation. 2018. Disponível em: <https://organicdenmark.com/organics-in-denmark/facts-and-figures>. Acesso em: 20 out. 2018.

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